Pesca de alto mar - Uma paixão
Há duas vertentes possíveis em qualquer modalidade desportiva.
Todos nós jogámos à bola, e alguns ainda continuam a jogar. Mas há os que dão uns toques e os outros que jogam em equipas que disputam torneios e campeonatos.
Depois, ainda há os mais e menos habilidosos para a modalidade.
Eu considero que na pesca desportiva é exactamente o mesmo. Há os que dão uns toques, e os outros.
Em termos de pesca, e não só, eu sempre quis evoluir.
Um certo dia, no início da década de 80, quando regressava de uma pescaria costeira, com a cana na mão, apareceu um amigo que em tom de gozo ofereceu peixe para o jantar!
Acabou por mostrar o que tinha numa bacia dentro do carro. Tratava-se do resultado de uma pescaria de barco.
O entusiasmo foi muito, e quinze dias depois lá estava eu ao largo da Nazaré a bordo do Nova Faneca, a pescar e a vomitar.
Aquilo, era um prazer sádico. O prazer de pescar sobrepunha-se ao mau estar provocado por um mar bastante revolto.
As experiências foram-se sucedendo ao longo de um ano, e comecei a aprender a controlar-me para não enjoar em cima de um barco.
Pouco tempo antes do Natal de 1983 fui abordado por um velho amigo ligado à mesma área profissional que eu, e um grande amante da pesca embarcada. Propôs-me uma reunião em S. Martinho do Porto a propósito da pesca.
O Clube Náutico de S. Martinho do Porto queria arranjar uma equipa para entrar no Campeonato Nacional de Pesca Desportiva do Alto Mar. Uma daquelas propostas de clubes pobres, em que cada praticante paga todas as despesas.
O apoio familiar surgiu depois de bem “cantada a canção” e lá fizemos uma equipa de 6 elementos, para entrar no Campeonato de 1984.
Na Primavera desse ano fiz a minha primeira incursão pelos meandros da competição desportiva de Pesca de Alto Mar.
Eu tinha 30 anos e as médias de idades andavam algures pelos 40.
Naquele ano em que comecei, havia apenas 82 participantes a nível nacional, do Algarve ao Minho, mas alguns anos depois passou-se para cerca dos 300 e hoje em dia, por causa da crise, a modalidade federada está estabilizada por baixo.
Comecei a aprender que aquilo de”dar uns toques” não chegava. Afinal a pesca não era só uma questão de sorte e de estar lá no momento exacto. A pesca desportiva tem uma componente técnica enorme.
Fiz muitos amigos, talvez por eu ser o “puto” no meio daquela gente toda mais velha.
Recordo alguns que já partiram e me ensinaram coisas, tão abertamente, como se fossem elementos da minha equipa.
Sem desprimor para ninguém, encontrei nas gentes do Norte verdadeiros mestres na transmissão desinteressada dos conhecimentos que tinham.
Aprendi muito com o que me ensinaram, mas mais ainda com a observação atenta do que se passava à minha volta.
A minha postura na competição levou-me a ser eleito em 1988 para os órgãos directivos da Federação como vogal do Conselho Técnico e em 1992 passei para a Presidência desse Órgão.
Os mandatos foram-se sucedendo e eu lá fui ficando, a pontos de se confundir o Órgão Federativo com a pessoa. Mas, em 2008 deixei a Federação e a prática competitiva.
Agora faço apenas umas brincadeiras de pesca quando me apetece.
Continuo a adorar fazer o que sempre fiz no meu percurso piscatório. Gozar perdidamente com os fanáticos com que me vou cruzando. Sim, porque o fanatismo inibe a capacidade de raciocínio.
Foram 24 anos de aprendizagem constante, que voltaria a repetir e que aconselho, sempre, a quem goste da modalidade.
Agora, quatro anos depois de eu ter abandonado a competição, tenho a noção exacta que estou completamente ultrapassado.
Noto isso quando pesco ao lado de alguns pescadores activos na competição. Não é só uma questão de vigor físico, mas sim as técnicas e as inovações nos equipamentos que me começaram a passar ao lado.
Às vezes, nos Fóruns, custa-me comentar intervenções sobre técnicas, materiais e equipamentos de pesca. Regra geral sou mal interpretado por pescadores lúdicos que pensam ser os donos da razão.
Mas reconheço que me surpreendem algumas intervenções com opiniões e práticas muito interessantes, de quem usa os conhecimentos de pesca com alguma razoabilidade e inteligência.
Quanto à pesca de água doce, por faltas de oportunidade, é área que não domino. Mas admito que deve ser muito interessante.
Para quem gosta de pesca, recordo apenas que, como quase tudo, as “coisas da pesca” têm que fazer sentido. Devemos percebê-las para as aplicar.
Se gostam, pratiquem, mas aproximem-se o mais possível de grupos heteróginos em que possam partilhar experiências e novidades.
A título de curiosidade, não posso terminar sem fazer alusão a dois amigos que foram campeões do Mundo na modalidade de pesca desportiva de alto mar em barco fundeado. Valter Canelas (Ericeira) e o Rui Gomes (Olhão)
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